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domingo, 23 de março de 2014

Ensaios Visuais: aplicações, revestimentos e texturas

Saudade (23cmX20cm). Papier mâché e acrílico sobre tela. Clique na imagem para ampliar a visualização. Para encomendar peças similares, contate misturartpelotas@gmail.com.

Interessante junção (40cmX40cm). Argila polimérica e latéx sobre tela. Clique na imagem para ampliar a visualização. Para encomendar peças similares, contate misturartpelotas@gmail.com.


Flores de um vaso (30cmX30cm). Papier mâche e latéx sobre tela. Clique na imagem para ampliar a visualização. Para encomendar peças similares, contate misturartpelotas@gmail.com.
Inspirado no trabalho da artista canadense Gera Scott Chandler, que aplica argila polimérica sobre tela. Para visualizar o trabalho de Chandler, visite:http://www.amusedcreations.blogspot.com.br/ — emPelotas.

(Re) estrutura (23cmX20cm). Papel de fibras naturais e acrílico sobre tela produzida com argila polimérica fibrosa. Clique na imagem para ampliar a visualização. Para encomendar peças similares, contate misturartpelotas@gmail.com.

sábado, 22 de março de 2014

Paper mache e Paper mache clay: receitas inglesas

A pesquisa de receitas estrangeiras tem o objetivo de descobrir novos ingredientes e texturas para a modelagem em papel machê.  A maior parte dos sites brasileiros divulga a massa básica (papel higiênico ou jornal + cola PVA), que nem sempre é a ideal para a intenção artística que anseio. Penso que devem existir outros artistas e artesãos que buscam outras possibilidades para a modelagem em papel machê e, por isso, logo abaixo eu publico a tradução livre de seis receitas inglesas que julguei interessantes. Meu inglês limita-se a leitura acadêmica: não sou fluente. Desse modo, deixei os ingredientes na língua original para que alguém fluente em inglês comente, se achar algum equívoco de tradução. 
Reforço: por favor, ao encontrar erros de tradução, comente.

Receita 1

de Frank Paris, comentada pelo marionetista Ronnie Burkett. 
Trata-se de uma massa forte, ideal para a base de modelagem e para fundição de elementos (modelagem com fôrmas).
BURKETT, R. Papier Mache Rediscovered.  Canadá: Proptology, n. 20, 2004, s/p. Disponível em: http://home.eol.ca/~props/papier.html, acessado em 22/03/2014

Materials:
6 ounces good quality glossy magazine paper (approximately one half of a Time or Newsweek)
1 square foot of brown kraft paper (grocery bag paper)
2 heaping tablespoons whiting (ground chalk)
4 tablespoons white glue
1 tablespoon linseed oil
2 tablespoons dry powdered what wallpaper paste or 1/4 cup flour and water paste (recipe follows)
2 drops oil of cloves or 1 tablespoon bleach

Ingredientes:
Aproximadamente 200g de papel revista de boa qualidade (brilhante)
1 envelope de kraft marrom (tipo ofício)
2 col. de sopa de rejunte
4 col. de sopa de cola branca PVA
1 col de óleo de linhaça 1 colher de sopa
2 col. de cola para papel de parede ou 1/4 de xícara de farinha (se dividirá para a cola bolão – receita abaixo – e ajuste de plasticidade)
2 gotas de óleo de cravo ou 1 col. de sopa de água sanitária

Cola bolão:
Ponha 1 copo de água para ferver e, depois, apague o fogo. Enquanto a água ferve, em outro recipiente misture 3 col de sopa de farinha e 1/3 de xícara de água fria para uma consistência macia. Despeje a farinha e água para a água fervente. Mexa até engrossar. Por último, misture bem o óleo de cravo na cola bolão (ou a água sanitária) e reserve.

Modo de fazer esse paper mache:
Para produzir a polpa de papel, rasgue as folhas de revista e papel kraft em pedaços pequenos (2cm). Coloque para ferver os pedaços de papel em uma mistura de água e 2 col. de água sanitária (deve cobrir o papel) – fogo alto para iniciar a fervura, depois baixe o fogo e cozinhe o conteúdo por 2hs, mexendo eventualmente.
Depois disso, com o auxílio de um coador, escoe a água excedente. Lave essa massa de celulose até que tu percebas que o líquido escoa com uma cor clara. Devolva a massa para a panela e, mexendo vigorosamente, inicie o processo de separação das fibras. Se preferir, podes usar o liquidificador para essa tarefa, desde que a massa esteja misturada em água suficiente para não forçar o aparelho. Escoe a água excedente com um coador, que pode estar forrado com um filtro de pano (tipo fralda). Com massa toda dentro do filtro, una as pontas do tecido, aperte e depois torça para que o que permaneça seja somente massa de papel úmida.
Essa massa de papel é misturada a todos os outros ingredientes, se a opção for cola bolão. Se a cola utilizada for a de papel de parede ela deve ser polvilhada sobre a pasta de papel na medida em que se está sovando o material. Depois de homogeneizar bem a mistura, ela está pronta para ser usada. Para armazenar, embalar a vácuo e refrigerar. Assim, o paper mache tem alta durabilidade. No entanto, cada vez que retirado da embalagem vai secando e, consequentemente, fica mais difícil de utilizar o material.

Receita 2

sem referência, comentada pelo marionetista Ronnie Burkett.
Trata-se de uma receita mais refinada, ideal para moldagem de cabeças.
BURKETT, R. Papier Mache Rediscovered.  Canadá: Proptology, n. 20, 2004, s/p. Disponível em: http://home.eol.ca/~props/papier.html, acessado em 22/03/2014

Materials:
1/2 roll good quality white toilet paper
4 tablespoons white glue
1 tablespoon raw linseed oil
2 tablespoons wheat wallpaper paste or 1/4 cup flour and water paste
2 drops oil of cloves or 1 tablespoon liquid bleach

Ingredientes:
1/2 rolo de papel higiênico de boa qualidade
4 col. de sopa de cola branca
1 col. de sopa de óleo de linhaça cru
2 col. de sopa de trigo colar papel de parede ou cola bolão
2 gotas de óleo de cravo ou 1 col de sopa de água sanitária

O modo de fazer esse paper mache segue os passos da receita 1.

Receita 3

sem referência, comentada pelo marionetista Ronnie Burkett. 
Essa receita não é propriamente um papel machê, mas uma massa de pão (farinha já cozida). Trata-se de um material ideal para recobrir as superfícies produzidas com massas mais grossas e correções (trincas, por exemplo).
BURKETT, R. Papier Mache Rediscovered.  Canadá: Proptology, n. 20, 2004, s/p. Disponível em: http://home.eol.ca/~props/papier.html, acessado em 22/03/2014

Materials:
2 slices of Bread
2 tablespoons white glue
2 drops glycerine or 2 drops liquid detergent

Ingredientes:
2 fatias de pão
2 col. de cola branca PVA
2 gotas de glicerina ou 2 gotas de detergente líquido

Modo de fazer:
Remover as crostas do pão e esmigalhar a parte branca em um pequeno frasco. Adicionar a cola branca e glicerina (ou detergente líquido) e amassar a mistura até que o material não se apresente pegajoso. Após isso, estará pronto para usar. Armazene a vácuo e sob refrigeração.

Receita 4

de Z. Meilach, comentada pelo marionetista Ronnie Burkett.
Trata-se de uma receita forte, ideal para modelagem de corpos.
BURKETT, R. Papier Mache Rediscovered.  Canadá: Proptology, n. 20, 2004, s/p. Disponível em: http://home.eol.ca/~props/papier.html, acessado em 22/03/2014

Materials:
4 double-page sheets of newspaper
2 heaping tablespoons whiting, ground chalk or cellulose spackle
2 tablespoons white glue
1 tablespoon raw or boiled linseed oil
2 drops oil of wintgergreen or oil of cloves
2 tablespoons wheat wallpaper paste or flour and water paste

Ingredientes: 
4 folhas duplas de jornal
2 col. de rejunte, giz apagado ou massa corrida a base de celulose
2 col. de cola branca PVA
1 col. de sopa de óleo de linhaça cru ou cozido
2 gotas de óleo de cravo
2 col. de sopa de colapapel de parede ou cola bolão

A produção do paper mache segue o que está descrito na receita 1. 

Receita 5

por Juliet Bawden, comentada pelo marionetista Ronnie Burkett. 
Trata-se de um material ideal para modelagens de grandes dimensões.
BURKETT, R. Papier Mache Rediscovered.  Canadá: Proptology, n. 20, 2004, s/p. Disponível em: http://home.eol.ca/~props/papier.html, acessado em 22/03/2014

Materials:
Newspaper (enough to fill your pot to the brim)
Sawdust (same quantity as your strained paper pulp)
2 cups white glue
Whiting (half the amount of your pulp)
2 tablespoons raw or boiled linseed oil
A few drops oil of cloves
Wheat wallpaper paste.

Ingredientes:
Jornal (o suficiente para encher sua medida até a borda).
Serragem peneirada (mesma quantidade da pasta de papel)
2 xíc. de cola branca PVA
Gesso apagado
2 col. de óleo de linhaça
2 gotas de óleo de cravo
Cola de papel de parede 

Prepare a polpa de papel jornal como indicado nas outras receitas. Depois disso, adicione todos os outros ingredientes e misture bem até que a massa fique homogênea. A adição de serragem deixa a mistura mais pesada, compacta e texturizada. E, dependendo do tamanho da peça, pode demorar a secar (até três semanas). Por outro lado, ela permite correções por remodelagem para prevenir ou reparar qualquer distorção ou rachaduras.

Receita 6, Paper Mache Clay

de Jonni Good.
Trata-se de uma variação da receita 2, conforme a autora mesmo indica.
Disponível em http://www.ultimatepapermache.com/paper-mache-clay, acessado em 22/03/2014.

Ingredientes:
1 ¼ de papel higiênico esfarelado e úmido
OBS: o papel é removido do rolo e esfarelado em água morna. Depois disso é processado no liquidificador e, por ultimo, é espremido com as mãos com força para remover a água excedente.
1 xíc. de rejunte
3/4 xíc. de cola PVA
1/2 xíc. de farinha branca
2 col. de sopa de óleo de linhaça, óleo mineral ou óleo de cozinha

Modo de fazer:
Utilize uma batedeira para misturar todos os ingredientes. Embale a vácuo e não precisa de refrigeração.O preparo da fórmula está disponível em vídeo: http://youtu.be/f84FvxLHCnk, acessado em 22/03/2014. Veja: 




sexta-feira, 21 de março de 2014

O papier mâché: breve trajetória histórica e considerações técnicas gerais.

Apesar do nome francês, o papier maché remonta a Antiguidade e tem origem chinesa: surgiu por volta do século II a.C. Após um período restrito no Oriente, essa técnica de modelagem artística alcançou o Ocidente através dos franceses e ingleses (séc. XVII), difundindo-se pelo mundo no século XIX.

Considerando toda sua trajetória histórica, o material serviu à produção de adereços pessoais, objetos utilitários e decorativos, elementos artísticos integrados à arquitetura, à escultura ou ao mobiliário, por exemplo, além de compor massas de restauração para certos tipos de artefatos – tais como, por exemplo, antigas peças cerâmicas. Considerando toda essa diversidade de uso, compreende-se por que o papier machê não tem fórmula e  método de produção únicos.

A massa básica do papier mâché é uma mistura de um compósito fibroso (polpa de papel – celulose) e um agregante (cola, geralmente de base aquosa). É preciso notar que, ao longo da história, o próprio papel modificou suas características básicas: antigamente era normal o papel de origem oriental e o papel trapo, que se diferem daquilo que hoje chamamos de papel. Isso se torna interessante para quem pesquisa novas composições e texturas: é possível utilizar fibras têxteis para produzir a polpa base, basta saber preparar esse material alternativo. (Posteriormente, eu publicarei meus experimentos).
O agregante, por sua vez, pode ser de origem natural vegetal (cola bolão; farinha (geralmente)+água) e emulsões adesivas de origem sintética (geralmente a cola branca PVA). Não é raro a mistura de ambas as colas. O uso da cola branca é recente: foi introduzido em meados do século XX, quando o uso de emulsões PVA se disseminou pelo mundo. Esse adesivo moderno colabora para que a massa apresente maior plasticidade, característica relacionada às propriedades de flexibilidade, elasticidade e maleabilidade, assim como projeta maior durabilidade e resistência às modelagens. 

A pasta base do papier mâché (polpa+cola) pode receber certos aditivos que auxiliam na homogeneidade da pasta (compósitos vegetais e/ou minerais em pó), ou na plasticidade e conservação do material (substâncias oleaginosas de origem natural ou sintética, biocidas, antifúngicos e conservantes), além de agentes colorantes e descolorantes (pigmentos, corantes e tintas de base aquosa). Cada mistura produzirá um material com desempenho técnico específico. Observar a função de cada compósito auxilia a planejar fórmulas adequadas às características, funções e uso que o produto final terá.

As principais qualidades da massa de modelagem são: a plasticidade e a adesividade, que possibilitam a fácil modelagem de peças bidimensionais e tridimensionais, incrustações, impressões, aplicações e sobreposição de partes (trabalho por adição). Para esculturas de maior dimensão, talvez não seja conveniente aplicar a massa de forma maciça. Assim, por vezes, será necessária uma estrutura interna, por diversos motivos, entre os quais estão: o melhor rendimento do material artístico; a maior estabilidade física às peças quando úmidas; e a rapidez durante a secagem. Para ilustrar apresento uma escultura produzida a partir de uma garrafa plástica.


O gato faceiro (aprox. 45cmX16cm). Escultura figurativa. Coleção particular. Clique na imagem para visualizar melhor a figura. Para encomendar peças similares, entre em contato pelo e-mail misturartpelotas@gmail.com. 

Na mesma direção, é preciso lembrar que o material é incompatível com metais de fácil oxidação. Ao contrário, se for aplicado sobre uma superfície ou elemento metálico oxidante, será normal o surgimento de manchas de ferrugem. Desse modo, normalmente os metais são dispensados ou protegidos com algum material – a solução técnica da artista plástica Alice Mantellatto, cobrindo o arame estrutural com fita veda rosca, exemplifica bem essa questão. 


Trabalho comentado por Alice Mantellatto na postagem "Projeto 45 dias - apenas o começo", publicada em 14 de janeiro de 2014. Disponível em: http://nopaisdaalice.com/tag/papel-mache/page/4/, acessado em 21/03/2014.

De um modo geral, modela-se o papier mâché com as mãos ou com fôrmas. Alguns materiais e instrumentos utilizados na modelagem de argila ou na porcelana fria podem facilitar o alcance de algumas formas, impressões e relevos, tais as estecas, rolos de impressão, marcadores, guardanapos plásticos, entre outros. 
Durante a secagem, as peças modeladas podem apresentar alterações nas suas dimensões e fissuras, especialmente se o ingrediente principal – a polpa de papel – estiver muito úmido. Após a secagem, se necessário for, é possível lixar a superfície, aplicar preenchimentos (com o próprio papier mâché, massa corrida, gesso acrílico, entre outros) ou ainda revestir a superfície com pintura e verniz de proteção. Deve-se sempre respeitar o tempo de secagem dessas etapas ou induzir isso de alguma forma (eu, por exemplo, utilizo o micro-ondas e sopradores térmicos para agilizar algumas etapas de acabamento).
As principais características técnicas das peças modeladas em papier mâché são: a higroscopia, em função da propriedade hidrofílica da celulose e da porosidade de seus corpos, além da rugosidade superficial e sua leveza (obviamente, poderiam ser citadas outras características e propriedades, mas esses pontos são aqueles que mais se relacionam aos interesses artísticos e técnicos que pesquiso). Nesse sentido, considero que os produtos de papier mâché são frágeis e, de um modo particular, não apresentam grande resistência à umidade – ao contrário do indicam alguns apaixonados pela técnica que destacam uma alta resistência para os objetos produzidos com o material em questão. Por outro lado, é possível manter as peças íntegras, sem manchas e evitar a biodeterioração se suas especificidades técnicas e artísticas forem respeitadas: é preciso minimizar ao máximo o contato com metais, limpar as superfícies dos objetos, manter as peças em ambiente seco e afastadas de locais com infestações biológicas.

Nomenclatura mais comum: papel machê (português), paper mache (inglês), papel maché (espanhol), cartapesta (italiano) e pappmaché (alemão).

Referências:
FERREIRA, M. História do papel machê parte 1 e 2. In: http://alegriadosmeusdedos.blogspot.com.br/search/label/papel%20mach%C3%A9
KOOB, Stephen. Obsolete fill materials found on ceramics. Journal of the American Institute for Conservation (JAIC), [S.I.], 1998. v. 37, n. 1. pp. 49-67. Disponível em: <http://cool.conservation-us.org/jaic/articles/jaic37-01-005_1.html>, acesso em 07 dez. 2012.


quinta-feira, 20 de março de 2014

Versão própria de papier mâché

Entre as técnicas de modelagem artesanal que domino, está o papier mâché – expressão oriunda do francês, que significa papel picado e amassado. Existem inúmeras composições e métodos para produzir essa massa e, por isso, os resultados artísticos serão diversos.

Quando eu modelo, eu procuro massas de textura mais suave, que sirvam para produzir peças artesanais mais delicadas, de melhor acabamento e que sequem rapidamente nas condições climáticas de Pelotas. Para esclarecer: essa cidade está localizada na região sul do Rio Grande do Sul, às margens da Lagoa dos Patos, apresenta um clima temperado, onde a temperatura média anual é 17,5ºC e a umidade relativa geralmente está a 80%. Essa circunstância exige que eu pesquise soluções alternativas para que as massas que produzo e modelo não sejam prejudicadas por mofos ou qualquer outra situação que cause desperdício de material em função da alta umidade. Ao mesmo tempo, eu procuro massas de simples produção, que não empreguem materiais de difícil aquisição, tóxicos ou poluentes.

Com a receita mais comum de papier mâché (pasta de papel tratada com água sanitária +cola bolão e/ou cola PVA) acontece isso:

Bolor cinzento percebido somente após a aplicação de revestimento branco.

Para as massas de composição aquosa – tal como o papier mâché – eu utilizo o micro-ondas doméstico para preparar os componentes úmidos fórmula. De uma maneira mais clara: para o papier mâché, eu desidrato a polpa de papel e produzo a cola bolão no micro-ondas. Além disso, dependendo das dimensões e características dos modelados que produzi, eu eventualmente induzo a secagem das peças no mesmo aparelho.

Considerando isso, apresento uma souvenir de Páscoa que foi produzida dessa maneira. Depois comento o preparo prévio dos ingredientes e as vantagens que observei no resultdo geral.


Coelho branco (13cmx8cmx1cm). Souvenir de Páscoa. Representa o método de produção que envolve irradiação micro-ondas. Clique na imagem para visualizar melhor a figura.Para encomendar peças similares, entre em contato pelo e-mail misturartpelotas@gmail.com.

Preparo de ingredientes do papier mâché no micro-ondas

1. Cola bolão: agregante.
  • Materiais: ½ xícara de farinha branca comum dissolvida em 1 xícara de água. 
  • Produção: Depois de bem homogeneizada, a mistura é posta no micro-ondas e cozida na potência máxima por 2min. Esse tempo pode variar um pouco, pois os micro-ondas se diferenciam nas suas especificações técnicas.
  • Resultado: uma pasta firme, de cor translúcida.
  • Reserve esse material.
A aparência da cola bolão preparada no micro-ondas.

2. Polpa de papel: agregado fibroso de celulose - ingrediente principal.
  • Material: papel – eu geralmente reaproveito jornais velhos.
  • Produção: o jornal é rasgado, misturado à água dentro de um vasilhame de alumínio (jornal+água = 1:3, proporção aproximada) e logo é levado ao fogo por 30min. Isso permite que as fibras do papel amoleçam e que as tintas do jornal se dissolvam parcialmente. Depois disso, eu bato o material no liquidificador, escôo a água excedente e ponho a polpa dentro de um saco que algodão, que é pendurado e deixado para secar por um ou dois dias. Por fim, eu separo as fibras de papel durante a secagem da polpa no micro-ondas (potência máxima, 2 ou 3x5min para aproximadamente 500g de polpa úmida, variando o tempo conforme a quantidade e umidade de material a ser desidratado).
  • Resultado: não utilizo biocidas e descolorantes, mas a polpa não cheira mal e o produto apresenta cor cinzenta.
  • Separe 100g de polpa de papel seca e desfibrilada.
Polpa de papel jornal seca no micro-ondas.

3. Sólido mineral: carga inerte ou ativa, funcionando como agregante auxiliar ou como secativo. Utilizo um ou outro: jamais envolvo esses materiais em conjunto porque o papier mâché pode perder em plasticidade e trincar durante a secagem. Evito utilizar farinha ou qualquer outro pó de origem vegetal.

  • Como agregantes auxiliares uso geralmente o di-hidrato de gesso (gesso apagado ou, se preferir, gesso sotille), alumina (óxido de alumínio, encontra-se em lojas de materiais odontológicos em fina granulometria) ou sílica micropulverizada.  
A produção do gesso apagado é fácil: dissolver uma porção de gesso em água na proporção de 1:10. Agite a mistura até que o gesso reaja totalmente: isso dura em média de 5 a 18min, dependendo do tipo de gesso. Depois, escoe bem e, de preferência retire a umidade do material no micro-ondas. Eu utilizo o gesso odontológico, de fina granulometria e de cor branca.

Produção artesanal de gesso sotille: etapa de escoamento da água de decantação (peneira e voil). 
  • Como agente secativo: geralmente utilizo o quartzolit peneirado (material industrial, que serve para rejunte de pastilhas vítreas). O gesso comum funciona pouco para essa função na minha opinião.
  • Separe ½ xícara de sólido mineral.
4. Agente lubrificante: geralmente utilizo a vaselina líquida ou óleo mineral. Evito usar óleo vegetal (de cozinha), pois ele deixa a massa de papel pegajosa em minha opinião. 
  • Separe 1 colher de sopa desse elemento.
Misture todos esses ingredientes e o papel mâché estará pronto para ser modelado. Em comparação com outras receitas que já testei, esse método produz um material bastante plástico e as peças modeladas secam mais rapidamente e apresentam uma textura superficial mais homogênea.

Detalhe do Coelho Branco (13cmx8cmx1cm). Souvenir de Páscoa. A imagem permite observar a textura das peças que envolvem o preparo prévio dos ingredientes no micro-ondas. Clique na imagem para visualizar melhor a figura. Para encomendar peças similares, entre em contato pelo e-mail misturartpelotas@gmail.com.

Observações importantes:
  • Essa receita não contém cola branca PVA, por isso algumas peças podem ser secas no micro-ondas. Peças que envolvem o adesivo PVA formarão bolhas quando submetidas ao calor produzido pelo aparelho.
  • Se após a mistura dos ingredientes a massa ainda estiver pegajosa, não utilize farinha ou qualquer outro pó. Ponha o material no micro-ondas por 1 ou 2 minutos, espere esfriar e sove novamente.
  • Para o ajuste do pH (quando necessário): utilizo o carbonato de cálcio, em quantidade suficiente para neutralizar a substância. Isso é conveniente para evitar a oxidação, acidificação e os agentes microbiológicos, que potencializam o envelhecimento químico do elemento modelado. Para medir o pH utilizo uma pequena porção da massa diluída em água destilada e fitas medidoras de pH. O ideal é que a substância apresente pH=7 ou uma pequena reserva alcalina (pH até 8).
  • Embale o papier mâché a vácuo para posterior utilização: utilize o filme plástico ou saco plástico, retirando ao máximo o ar do interior. Desse modo, não será preciso refrigerar a massa.
Considerando as dimensões da souvenir de Páscoa ilustrada nessa postagem, a massa de papie mâché secou por 24hs na temperatura ambiente, em local ventilado e seco. Depois, a peça modelada recebeu uma fina camada de massa PVA para melhorar ainda mais seu acabamento superficial. Logo depois, utilizou-se o micro-ondas para tornar mais ágil a secagem dessa etapa (potência máxima, 2x1min). Por último, a peça foi lixada, recebeu um aquarelado de tinta a base PVA, sobreposições de outros materiais, tais como papel, fio sintético e arame de alumínio, além da proteção de um verniz (nesse caso, fosco). Esse aquarelado teve a intenção de deixar evidente que a peça é de papier mâché, entretanto, outros artistas preferem cores mais saturadas e cobrir toda a superfície do material artístico.

Tempo total envolvido: 3 dias.
Durabilidade do material embalado: observou-se um tempo total de 14 dias, período no qual as características do papier mâché se apresentaram inalteradas. Porém, acredita-se que, com esses materiais, método e nas condições climáticas de Pelotas, o tempo de durabilidade da massa artística se estende muito mais. Em locais mais secos, os materiais e método podem se mostrar inconvenientes.
Vantagens do método: evitam-se os biocidas e antifúngicos (timol, bórax, lisoforme e óleo de cravo, por exemplo), rapidez da secagem, compactação da estrutura, superfície de menor rugosidade.

Se outros artistas e artesãos experimentarem essa receita, eu gostaria de conhecer suas impressões técnico-artísticas.