Apesar do nome francês, o papier maché remonta a Antiguidade e tem origem
chinesa: surgiu por volta do século II a.C. Após um período restrito no
Oriente, essa técnica de modelagem artística alcançou o Ocidente através dos
franceses e ingleses (séc. XVII), difundindo-se pelo mundo no século XIX.
Considerando toda sua
trajetória histórica, o material serviu à produção de adereços pessoais,
objetos utilitários e decorativos, elementos artísticos integrados à
arquitetura, à escultura ou ao mobiliário, por exemplo, além de compor massas
de restauração para certos tipos de artefatos – tais como, por exemplo, antigas
peças cerâmicas. Considerando toda essa diversidade de uso,
compreende-se por que o papier machê
não tem fórmula e método de produção únicos.
A massa básica do papier mâché é
uma mistura de um compósito fibroso (polpa de papel – celulose) e um agregante
(cola, geralmente de base aquosa). É preciso notar que, ao longo da história, o
próprio papel modificou suas características básicas: antigamente era normal o
papel de origem oriental e o papel trapo, que se diferem daquilo que hoje chamamos
de papel. Isso se torna interessante para quem pesquisa novas composições e
texturas: é possível utilizar fibras têxteis para produzir a polpa base, basta
saber preparar esse material alternativo. (Posteriormente, eu publicarei meus experimentos).
O agregante, por sua vez, pode
ser de origem natural vegetal (cola bolão; farinha (geralmente)+água) e emulsões adesivas
de origem sintética (geralmente a cola branca PVA). Não é raro a mistura de ambas as colas. O uso da cola branca é
recente: foi introduzido em meados do século XX, quando o uso de emulsões PVA
se disseminou pelo mundo. Esse adesivo moderno colabora para que a massa apresente
maior plasticidade, característica relacionada às propriedades de flexibilidade,
elasticidade e maleabilidade, assim como projeta maior durabilidade e
resistência às modelagens.
A pasta base do papier mâché (polpa+cola) pode receber
certos aditivos que auxiliam na homogeneidade da pasta (compósitos vegetais
e/ou minerais em pó), ou na plasticidade e conservação do material (substâncias
oleaginosas de origem natural ou sintética, biocidas, antifúngicos e
conservantes), além de agentes colorantes e descolorantes (pigmentos, corantes
e tintas de base aquosa). Cada mistura produzirá um material com desempenho técnico específico. Observar a função de cada compósito auxilia a planejar fórmulas adequadas às características, funções e uso que o produto final terá.
As principais qualidades
da massa de modelagem são: a plasticidade e a adesividade, que possibilitam a
fácil modelagem de peças bidimensionais e tridimensionais, incrustações,
impressões, aplicações e sobreposição de partes (trabalho por adição). Para esculturas
de maior dimensão, talvez não seja conveniente aplicar a massa de forma maciça.
Assim, por vezes, será necessária uma estrutura interna, por diversos motivos,
entre os quais estão: o melhor rendimento do material artístico; a maior
estabilidade física às peças quando úmidas; e a rapidez durante a secagem. Para ilustrar apresento uma escultura produzida a partir de uma garrafa plástica.
O gato faceiro (aprox. 45cmX16cm). Escultura figurativa. Coleção particular. Clique na imagem para visualizar melhor a figura. Para encomendar peças similares, entre em contato pelo e-mail misturartpelotas@gmail.com.
Na mesma direção, é preciso lembrar que o material é incompatível com metais de fácil
oxidação. Ao contrário, se for aplicado sobre uma superfície ou elemento
metálico oxidante, será normal o surgimento de manchas de ferrugem. Desse modo,
normalmente os metais são dispensados ou protegidos com algum material – a solução técnica da artista plástica Alice Mantellatto, cobrindo o arame estrutural com fita veda rosca, exemplifica bem essa questão.
Trabalho comentado por Alice Mantellatto na postagem "Projeto 45 dias - apenas o começo", publicada em 14 de janeiro de 2014. Disponível em: http://nopaisdaalice.com/tag/papel-mache/page/4/, acessado em 21/03/2014.
De um modo geral, modela-se
o papier mâché com as mãos ou com
fôrmas. Alguns materiais e instrumentos utilizados na modelagem de argila ou na porcelana fria podem facilitar o
alcance de algumas formas, impressões e relevos, tais as estecas, rolos de impressão, marcadores, guardanapos plásticos, entre outros.
Durante a secagem, as
peças modeladas podem apresentar alterações nas suas dimensões e fissuras,
especialmente se o ingrediente principal – a polpa de papel – estiver muito
úmido. Após a secagem, se necessário for, é possível lixar a superfície, aplicar
preenchimentos (com o próprio papier mâché, massa corrida, gesso acrílico, entre
outros) ou ainda revestir a superfície com pintura e verniz de proteção. Deve-se sempre respeitar o tempo de secagem dessas etapas ou induzir isso de alguma forma (eu, por exemplo, utilizo o micro-ondas e sopradores térmicos para agilizar algumas etapas de acabamento).
As principais
características técnicas das peças modeladas em papier mâché são: a higroscopia, em função da propriedade hidrofílica da celulose e da porosidade de seus
corpos, além da rugosidade superficial e sua leveza (obviamente, poderiam ser citadas outras características e propriedades, mas esses pontos são aqueles que mais se relacionam aos interesses artísticos e técnicos que pesquiso). Nesse sentido, considero que os produtos de papier
mâché são frágeis e, de um modo particular, não apresentam grande resistência à umidade – ao
contrário do indicam alguns apaixonados pela técnica que destacam uma alta
resistência para os objetos produzidos com o material em questão. Por outro
lado, é possível manter as peças íntegras, sem manchas e evitar a biodeterioração se suas especificidades técnicas e artísticas forem respeitadas: é preciso minimizar ao máximo o contato com metais, limpar as superfícies dos objetos, manter as peças em
ambiente seco e afastadas de locais com infestações biológicas.
Nomenclatura mais comum:
papel machê (português), paper mache (inglês), papel maché (espanhol),
cartapesta (italiano) e pappmaché (alemão).
Referências:
SOUZA, M. N. In: http://www.recompondopapel.com.br/historia.htm
FERREIRA, M. História do papel machê parte 1 e 2. In: http://alegriadosmeusdedos.blogspot.com.br/search/label/papel%20mach%C3%A9
KOOB, Stephen. Obsolete fill materials found on ceramics. Journal of the
American Institute for Conservation (JAIC), [S.I.], 1998. v. 37, n. 1. pp.
49-67. Disponível em: <http://cool.conservation-us.org/jaic/articles/jaic37-01-005_1.html>,
acesso em 07 dez. 2012.
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